Irmã Cecídia Mendes da Silva: “Você é de Nossa Senhora; você é de Maria”

26 de Setembro de 2009

=”javascript:popup(‘/pop-up/noticias.asp?id=248&img=01’);”>Os traços são fortes, as mãos expressivas e coração gigante. Aos 79 anos, Irmã Cecídia Mendes da Silva ou Argemira Maria de São José – nome da mãe, adotado pela irmã em sua vida religiosa –, descobriu sua vocação ainda muito cedo: aos 13 anos. “Descobri minha vocação, não sei bem dizer se foi assim que descobri, através de minhas leituras. Sempre gostei de ler muitos livros de santos, então um dia eu li um livro de Santa Terezinha do Menino Jesus e foi aí que despertei para aquele desejo te ter uma vida diferente”.



Não que Irmã Cecídia achasse que a vida de casados fosse, como se dizia na época, “uma vida menos perfeita”, mas ela queria seguir um outro rumo, ajudando as pessoas. “Achei que me casando eu iria me envolver mais com marido e filhos. Sem me casar, eu teria mais liberdade para ajudar o próximo”, conta a religiosa.



O lampejo da menina causou certa preocupação em seus pais. “Nós estávamos no meio de uma refeição quando eu contei que queria ser freira. Terminando a refeição, minha mãe me disse: ‘Filha, senta aqui, vamos conversar. Vejo que você é muito nova para tomar uma decisão como esta. Vamos esperar mais um pouco?’” Cecídia então ficou seis meses sem falar no assunto. Quando resolveu falar, o pai estranhou a atitude dela, achou que ela já havia esquecido daquilo, mas a ideia permanecia viva.



Na contra-mão da lei e do preconceito
Daí em diante, ela iniciou uma verdadeira luta contra as normas estabelecidas e o preconceito racial. Pela lei canônica, ela não poderia seguir sua vocação por ser filha única.
Nascida em Ilhéus (BA), a 16 de julho de 1930, Cecídia tinha um irmão dois anos mais novo, só que ele faleceu dois meses depois que a família se mudou para São Paulo – a mina de ouro daqueles tempos –, quando ele faria quatro anos. A menina então foi criada como filha única, o que futuramente lhe causou revolta. “Eu brigava muitas vezes com Deus. Eu perguntava para Ele: ‘Por que me deixou única? Por que meu irmão não está vivo? Por que não me dá outros irmãos?’” E ainda desafiava, dava ultimatos: “Eu sinto o desejo de ser religiosa e eu quero ser religiosa. Ou você, Deus, que pode tudo, dá um jeito, ou me tira essa vocação.”



E Ele deu um jeito. Em 1948, após procurar diversas congregações que não a aceitavam, ora por ser filha única, ora por ser negra, numa época em que o preconceito racial era a palavra de ordem, ela conseguiu. “Normalmente, essas congregações tinham nomes como Coração de Jesus, Missionários de Jesus Crucificado, Irmãs Paulinas, Irmãs Redentoristas… e mamãe dizia: ‘Filha, você não vai em nenhuma dessas congregações que não tenham o nome de Nossa Senhora. Você é de Nossa Senhora. Vai em uma congregação com nome de Maria, porque você é de Maria’”.
 
A história de Cecídia com Nossa Senhora começou ainda no ventre materno. Quando a mãe estava grávida, ela dizia que não queria menina, e sim menino. Porém, caso tivesse uma filha – algo que não poderia saber antes da criança nascer pela ausência dos mecanismos hoje existentes – a menina seria de Nossa Senhora, e não da mãe. “Vou criar para Nossa Senhora”, lançava. Coincidentemente, o nascimento de Cecídia se deu no dia em que a Igreja comemora o Dia de Nossa Senhora do Carmo.


Aos 18 anos, Cecídia, que morava em Vera Cruz (SP), foi para a capital para procurar por congregações de freiras. Visitava colégios e instituições onde havia irmãs, na esperança de poder fazer parte de algum lugar. Um ano depois, um senhor apareceu com uma revista. “Ele disse: ‘Você quer ser freira? Aqui tem uma revista pra você: É de freira’. Eu abri a rev

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